quarta-feira, 1 de junho de 2011

Crônicas de uma ilha - Parte 2

François-Edouard Picot, Cupid and Psyche, 1817

Ela arruma as malas, dobrando peça por peça e colocando aleatoriamente. Embora pareça calma, por dentro está explodindo, sentimento visível para quem a olha nos olhos e vê lágrimas escorrerem, e vê como o espírito humano pode se desintegrar tão rápido como a folha que cai da árvore nesse outono. Sem vida, inerte, sem esperanças. Ela fecha a mala e a põe na costa, enquanto levanta a de mochila vermelha de rodas do chão. Caminha para a porta. Espere, ele diz. Ela para. Onde no tempo nós nos perdemos, onde erramos, estava tudo correndo bem e de repente como se de um segundo à outro, tudo mudou. Roma estava queimando, e nada podíamos fazer. E ele concorda com ela. De repente os Verões não eram mais brilhantes, os Invernos congelaram, e a cada brisa que assoprava, nós falhavámos em algo, e eu acho que tudo isso é culpa sua. Queríamos o amor perfeito, queríamos o mundo, mas você não pode sempre ter tudo o que quer. Ela sai.
Ele passa a noite sentado na sala, em meio a garrafas, comprimidos e 2 maços de cigarro, o disco do Rolling Stones roda enquanto outra carreira de cocaína some do espelho na mesa de centro mogno. Ele imagina o avião dela decolando e passando por cima da casa, há quilômetros de distância no céu. E o avião passa, enquanto ele observa, tão alto quanto. Observando o mundo do espaço. Estamos todos sós. Ele diz. Todos tão assustados e perdidos, que fazemos qualquer coisa para encontrarmos alguém capaz de se afundar junto, queimando todas as últimas esperanças de nos sentirmos vivos, que nos agarramos a qualquer vestígio de calor e o seguramos até destruir mais uma chance e desesperados continuamos procurando.