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Ary Scheffer, 1835 "Os fantasmas de Paolo e Francesca da Rimini aparecem perante Dante e Virgílio" |
Então era isso. Foi um semestre divertido e de pouco aprendizado. Comum em toda sua decadente rotina. A hora de descansar já se aproximava e beijava sua face entediada, e ele dizia a si mesmo, é a mesma merda de mesmice de sempre. Tudo andava nas linhas do destino pré-escrito.
Não fosse uma mulher. De onde ela surgira? Ele não sabia, nunca reparara nela, na verdade ela não era de grande beleza, tinha uma bunda excitante mas os peitos pequenos, era quieta e não se destacava em nada. Mas tinha tudo em seu lugar. Sabia ser sensual. Mas nunca reparara nela antes desse derradeiro dia. Mas ela o fez. E decidiu contar seus desejos quanto a ele.
Certo dia, numa noite qualquer quando as últimas folhas do outono caíam, ela contara que sempre o admirara, e o quisera. Ela o enfeitiça, se joga de corpo e libido em suas calças e desejos. Mas ele resiste. Ela não tem os atributos de uma "gostosa padrão", é inferior a ele em vários aspectos. Mas é direta, experiente, excitada, ela o deixa ereto apenas com suas palavras.
Seus diálogos sempre acabam em sexo. Oral, posições, experiências, fantasias. Promessas. E a resistência dele rui. A promessa de um orgasmo inesquecível é mais forte que nós, humanos. E ele é um romântico, apaixonado por mulheres, escravo do prazer.
Então eles se encontram. É noite, a Lua sorri mas esconde sua face, para os amantes noturnos terem privacidade. O vento sobra sua gelada brisa de outono. Um arrepio sobe pela espinha dele, mas não foi o vento. A língua da mulher, que fez um movimento que ele nunca sentirá. Eles se beijam, se tocam, até que seus dedos não estejam mais secos. Suspiros à noite, línguas em todos os pontos erôgenos e palavras sujas. Como palavras sujas podem transformar o sexo oral.
Mas ele sabe que aquilo tudo é passageiro. Morrerá junto com as férias. Eles são muito diferentes. Ele é muito inteligente para ela, os diálogos não são completos. Ele é inconstante, enjoa rápido, se apaixona fácil. Ela não tem a beleza que o excita, só o sexo. Ela não é o melhor que ele pode conseguir, e ela sabe de tudo isso.
Talvez essa tenha sido a razão daquela noite ser tão gostosa. Para uma transa, nada melhor que o conhecimento do fim. A agonia da separação. Pois a entrega total, tanto no sexo como no amor, se deve a precariedade da relação. O humano mergulha fundo quando sabe que tudo é só uma fantasia, e que vai acabar.
A casa está vazia, silenciosa, o mundo abre os caminhos para que ela se abra. O beijo aquece o casal, orgasmos os acendem. E eles transam, enfim. O começo é sempre mais difícil, mas ela já está molhada. E logo o movimento constante dos corpos flui como o vento que sopra lá fora. Entre suspiros e carícias o romantismo passa, dando lugar ao suor e ao êxtase. Ela agarra as costas do homem, é um sinal, um pedido, que ele entende e acelera. Gemem. Ela, então, fica por cima, senta como rainha de um submundo sensual, em seu trono fálico e goza de prazer. Ele a pega de quatro, como ela gosta, e à pedidos, a penetra o mais rápido que pode. Quase ao mesmo tempo eles gozam. Toda a tensão de duas décadas de vida se esvaem num único e forte gemido.
Depois, deitados e exaustos, conversam nus. Ml's de fluidos mais leves. Ainda flutuando pelo ápice de prazer recém alcançado. E se beijam, enquanto ele masturba sua vagina lenta e vagarosamente. Mas é tarde. Hora de ir.
Ela o acompanha até a saída. no escuro corredor só se ouve o assobiar do frio. Mais nada. Se despedem no portão, com apenas um abraço. A fantasia que criaram, jaz no túmulo da realidade. E ambos sabem.
Então ele anda e, de repente para, olha para trás, mas não volta correndo, sequer pensara nisso. Apenas acena pela última vez. Se vira, e vai embora.
Ele não sabe o fim dela. Mas sabe o próprio. Ele continua andando. Pois essa é a vida dele, muitas vezes boa, muitas vezes vazia.
Então ele escreve. Bebe. E se afoga em um delicioso e molhado mar de sexo e vaginas.