sexta-feira, 4 de março de 2011

Breve conto ultrarromântico

Ary Scheffer, 1835 "Os fantasmas de Paolo e Francesca da Rimini aparecem perante Dante e Virgílio"
Então era isso. Foi um semestre divertido e de pouco aprendizado. Comum em toda sua decadente rotina. A hora de descansar já se aproximava e beijava sua face entediada, e ele dizia a si mesmo, é a mesma merda de mesmice de sempre. Tudo andava nas linhas do destino pré-escrito.
Não fosse uma mulher. De onde ela surgira? Ele não sabia, nunca reparara nela, na verdade ela não era de grande beleza, tinha uma bunda excitante mas os peitos pequenos, era quieta e não se destacava em nada. Mas tinha tudo em seu lugar. Sabia ser sensual. Mas nunca reparara nela antes desse derradeiro dia. Mas ela o fez. E decidiu contar seus desejos quanto a ele.

Certo dia, numa noite qualquer quando as últimas folhas do outono caíam, ela contara que sempre o admirara, e o quisera. Ela o enfeitiça, se joga de corpo e libido em suas calças e desejos. Mas ele resiste. Ela não tem os atributos de uma "gostosa padrão", é inferior a ele em vários aspectos. Mas é direta, experiente, excitada, ela o deixa ereto apenas com suas palavras.
Seus diálogos sempre acabam em sexo. Oral, posições, experiências, fantasias. Promessas. E a resistência dele rui. A promessa de um orgasmo inesquecível é mais forte que nós, humanos. E ele é um romântico, apaixonado por mulheres, escravo do prazer.
Então eles se encontram. É noite, a Lua sorri mas esconde sua face, para os amantes noturnos terem privacidade. O vento sobra sua gelada brisa de outono. Um arrepio sobe pela espinha dele, mas não foi o vento. A língua da mulher, que fez um movimento que ele nunca sentirá. Eles se beijam, se tocam, até que seus dedos não estejam mais secos. Suspiros à noite, línguas em todos os pontos erôgenos e palavras sujas. Como palavras sujas podem transformar o sexo oral.

Mas ele sabe que aquilo tudo é passageiro. Morrerá junto com as férias. Eles são muito diferentes. Ele é muito inteligente para ela, os diálogos não são completos. Ele é inconstante, enjoa rápido, se apaixona fácil. Ela não tem a beleza que o excita, só o sexo. Ela não é o melhor que ele pode conseguir, e ela sabe de tudo isso.
Talvez essa tenha sido a razão daquela noite ser tão gostosa. Para uma transa, nada melhor que o conhecimento do fim. A agonia da separação. Pois a entrega total, tanto no sexo como no amor, se deve a precariedade da relação. O humano mergulha fundo quando sabe que tudo é só uma fantasia, e que vai acabar.

A casa está vazia, silenciosa, o mundo abre os caminhos para que ela se abra. O beijo aquece o casal,  orgasmos os acendem. E eles transam, enfim. O começo é sempre mais difícil, mas ela já está molhada. E logo o movimento constante dos corpos flui como o vento que sopra lá fora. Entre suspiros e carícias o romantismo passa, dando lugar ao suor e ao êxtase. Ela agarra as costas do homem, é um sinal, um pedido, que ele entende e acelera. Gemem. Ela, então, fica por cima, senta como rainha de um submundo sensual, em seu trono fálico e goza de prazer. Ele a pega de quatro, como ela gosta, e à pedidos, a penetra o mais rápido que pode. Quase ao mesmo tempo eles gozam. Toda a tensão de duas décadas de vida se esvaem num único e forte gemido.

Depois, deitados e exaustos, conversam nus. Ml's de fluidos mais leves. Ainda flutuando pelo ápice de prazer recém alcançado. E se beijam, enquanto ele masturba sua vagina lenta e vagarosamente. Mas é tarde. Hora de ir.
Ela o acompanha até a saída. no escuro corredor só se ouve o assobiar do frio. Mais nada. Se despedem no portão, com apenas um abraço. A fantasia que criaram, jaz no túmulo da realidade. E ambos sabem.
Então ele anda e, de repente para, olha para trás, mas não volta correndo, sequer pensara nisso. Apenas acena pela última vez. Se vira, e vai embora.

Ele não sabe o fim dela. Mas sabe o próprio. Ele continua andando. Pois essa é a vida dele, muitas vezes boa, muitas vezes vazia.
Então ele escreve. Bebe. E se afoga em um delicioso e molhado mar de sexo e vaginas.

11 comentários:

Saulo Oliva disse...

É do conhecimento de todos que a vida é como uma bruma lá no mar. Não dura muito tempo. O se permitir, o se entregar em corpo e espírito, o não levar a vida tão a sério, como deixou posto na sua escrita, deixa a nossa breve caminhada mais prazerosa, divertida, dá um sabor inigualável!

Andrezza Vieira disse...

Uma noite marcante, mas tão comum. digo isso por causa 'dele'. amor, paixão, sexo... não importa: tudo o que vem, vai. e se volta, é porque é realmente nosso. Quando, no final do conto, você citou a vida vazia, lembrei de um filme que tem, em partes, cenas que esse conto lembra: "um lugar qualquer". mostra a vida vazia e fútil dos astros de hollywood diante das coisas simples que o mundo tem, e que realmente importam.
Muito bom texto, boas palavras, boa escrita. Invista no seu dom. Parabens!
Vou seguir, abraço

www.ocontadordeodisseias.blogspot.com

Andrezza Vieira disse...

Mais uma coisa: obrigada por me seguir e pelo elogio! Fico feliz por ter gostado do meu perfil, espero que tb tenha gostado do meu blog ; )

♥ Evelin Pinheiro ♥ disse...

Boa história, embora eu não tenha entendido mto bem...hohohoh

Gostei do blog, vim retribuir a visita!

BeijO*-*
www.evesimplesassim.blogspot.com/

Marte disse...

Ahh, a todos os que estão comentando, voces seus minha 1/2 dúzia de leitores esporádicos favoritos. Valeu mesmo pelos elogios. Mas também se sintam a vontade para criticar. Sei que a forma que escrevo pode deixar alguns bravos e tal.

Valeu mesmo.

E Saulo, voce é demais cara.

Anônimo disse...

Sua forma de escrever é excitante, em um bom sentindo claro, faz com que a gente se entregue ao texto como se a gente estive ali dentro da cena, dentro do quarto, dentro do carro, na cama, sentindo o desejo escorrendo pelo nosso corpo. Naturalmente peculiar.

Bom o que se nota nesse texto é caminho incansavel de pessoas em busca de um perfeição que nunca existirá notei aqui: ''Ele não sabe o fim dela. Mas sabe o próprio. Ele continua andando. Pois essa é a vida dele, muitas vezes boa, muitas vezes vazia.''
Ou seja ele já sabe que dá próxima vez será da mesma forma, apenas o sexo intenso, um prazer sublime, mas sem originalidade.

Eu particularmente adorei esse texto, é uma sensibilidade imensa notavel, me prendeu de uma forma que jamais um texto fez igual.

MADNESS - O BLOG DA LOUCURA!

Anônimo disse...

Uau! Um belo conto picante! Tem uma sensibilidade bem peculiar!

Priscila Silva disse...

ótimoooooo!

dinho-music disse...

excelente post,achei bem intenso.

O Cadáver Poético disse...

Sujo e humano, traduz os sentimentos de certos corações impuros que caminham sobre a terra.

Como o meu.

Unknown disse...

uma transa típica de alguém que busca apenas prazer !

Ana Souto